Donnerstag, 24. April 2008

Impulsos

Após ter visitado uma exposicao, seja ela de pintura ou fotografia, abstracta ou concreta, objectiva ou sentimental, decido invariavelmente nao me limitar à minha capacidade de memorizacao. Compro um catálogo. Por vezes irrito-me comigo mesma por, nesses momentos, me invadirem as vívidas fotos de salas de estar, presentes nas variadíssimas revistas de decoracao que preenchem qualquer estante de supermercado, loja de aeroporto ou quiosque de estacao. Qualquer sala que seja considerada bem decorada e, por isso, um exemplo a seguir no próprio domicílio, tem de estar composta por uma coffee table, cuja posicao no arranjo global é na maior parte das vezes fulcral, repleta de livros sobre as obras de Dalí, Picasso ou Mario Testino. Isto irrita-me pois a exuberancia de Dalí até me agrada bastante.
Nao me surpreende. Nas livrarias de museus ou casas de cultura, o espaco está de tal forma atafulhado de livros sobre tudo e sempre o mesmo que um qualquer visitante se sente incontrolavelmente tentado a comprar supérfluos como "Tudo que sempre quis saber sobre Miró" ou "Saiba porque ri a Mona Lisa". Que depois terminam os seus dias a acumular pó nas reentrancias da dita e famigerada coffee table.

Mittwoch, 23. April 2008

Entrevistas

Hoje entrevistei um tipo que nao me soube explicar o porque de os anos 1991 a 1995 nao se encontrarem mencionados no seu CV. Ao ser questionado sobre o que eventualmente terá feito nesse período, proferiu que já se terao passado tantos anos desde entao que uma resposta exacta e adequada à minha pergunta só poderia ser apresentada após uma pesquisa cuidada.
Pensei se terá um USB como memória ao invés de um cérebro.
Ficou de consultar a sua base de dados.

Novas responsabilidades

Que silencio descomunal. Ando ocupada com tudo e todos, menos comigo. Nao tenho controlo absolutamente nenhum sobre o meu tempo, corro de uma reuniao para outra, de repente parece que o mundo de pequenez que me rodeia nao consegue passar sem uma palavra ou um telefonema ou um mail meu. E é tudo tao superficial... Nao me apetece falar com pessoas que me perscrutam e se julgam dignas de me julgar por aquilo que faco ou penso ou visto. Com um tomar de posse de uma pasta tudo deixa de ser espontaneo para se tornar estudado, cautelosamente. E eu penso se o tal poder transferido com um montante mais chorudo ao final do mes é real. Um facto é certo: a autonomia desaparece.

Samstag, 19. April 2008

Comportamentos

Porque se magoa tanto as pessoas de quem mais se gosta?

Samstag, 12. April 2008

Journey of work

Ontem era suposto ter ido a Milano para uma reuniao de trabalho. Primeiro voo via Amesterdao, partida às seis (6!) da matina. Atrasado 40 minutos, mas ainda teria chegado a tempo de fazer uma escala minúscula. Segundo voo, atrasado 45 minutos. Decidi procurar uma mesa num local recondito e mais sossegado no aeroporto para terminar a apresentacao. Esqueci o tempo. Quando cheguei ao portao, nao vi ninguém. O voo já tinha partido havia 20 minutos. Demorei uma hora para ser atendida no balcao das transferencias (no ecran vi o número 120 e eu tinha na senha 170). Népias, voos seguintes cheios ou atrasados ou demasiado tarte para chegar ainda a tempo da reuniao. Optei por uma presenca telefónica (DUAS HORAS ao telemóvel, ininterruptamente). Voltei para casa às cinco da tarde. Foi um dia bem passado no aeroporto de Amesterdao.

Apercebi-me também que os culpados dos atrasos sao sempre os aeroportos de chegada e nao os de partida. No mínimo curioso.

Colectaneas

O meu problema com o passar do tempo é óbvio. Tento concentrar-me no presente, mas nao consigo arrancar-me do passado e projeccoes futuras esmagam a liberdade do hoje e agora.
Busco a receita "Como aproveitar esta oportunidade da melhor forma", mas ninguém me indica onde a encontrar.
Questoes banais como acordar cedo aos fins-de-semana para aproveitar melhor o tempo trazem consigo algo de obrigacao. Se tal deve acontecer, que entao seja espontaneo. Se nao sucede, como na maior parte dos casos, assaltam-me os remorsos e termino o dia com aquela sensacao de nada ter feito de proveitoso ou importante. Mas quem define o que isso é? Eu ou a aceitacao generalizada? Afinal nao tem tudo a ver com o próprio ser e as suas prioridades, o seu bem-estar (obviamente nao esquecendo o altruísmo, mas isso já tem mais de lugar comum...)?
Por vezes, sinto uma angústia incomensurável por nao poder parar no tempo para me decidir sobre o caminho que quero seguir. Este mesmo segundo, no qual me encontro e que puff já se esvaneceu na intemporalidade do tempo, nao pode ser revivido, apenas a sua memória ou a imaginacao do que poderia ter sido.
Porém, ao entregar-me a deleites musicais como "Another Boy Drowning" dos The The (para nomear só um...) ou "How soon is now" dos Smiths, sou invadida por um desespero por nao ter nascido uns anos mais cedo e poder sentir a existencia destes grupos, e nao, como hoje, ter de recorrer a Best ofs ou a colectaneas de revivalismo (ignorando a multitude dos mesmos por exemplo dos Stones). A plenitude que sinto ao sabor destes sons ainda nao foi ultrapassada por aquilo que hoje existe.
O que me tornaria uns anos mais velha. Hummm... Pensando bem... Vou buscar já a colectanea 45'.

"Saturday night and I was laying in my bed
The window was open and raindrops were bouncing off my head
When it hit me like a thunderbolt!
I don't know nothing and I'm scared that I never will
You pray to your God that you'll never feel so much pain again
But the agony has just begun

Moving on. Opening new doors
Life just doesn't seem that simple anymore
And in case I don't see you again
I hope you’ll feel glad that you knew me
While I was here"

Another Boy Drowning

Conflito de idiomas

Sem intencionar construir desculpas que possam justificar a ausencia de vocábulos e expressoes adequados a poder ilustrar aquilo que vejo, sinto, penso e admiro, estou convencida que a capacidade de memorizacao a nível linguístico é indubitavelmente influenciada pelo número de línguas que se domina ou a quantidade das mesmas às quais obrigatoriamente se recorre no dia-a-dia.
As minhas certezas e plenitudes em relacao à língua portuguesa vao desaparecendo com o tempo, ocasionalmente apoio-me na muleta dicionário online alemao-ingles ou alemao-portugues ou ingles-portugues.
Um fenómeno curioso que tende a assaltar-me os pensamentos após uma curta estada em Portugal é o facto de, por vezes, ouvir uns quaisquer vocábulos ao longe (exemplo TV) e nao saber como interpretá-los ou categorizá-los. "Será esta a minha língua materna?", dou por mim a questionar-me. Quase uma incapacidade assustadora de nao conseguir identificar ou diferenciar umas das outras. Sao uns segundos nos quais o meu cérebro tenta arduamente localizar-me no espaco e no universo linguísticos e por isso originários.
Será este um sinal de germanizacao?

Donnerstag, 10. April 2008

A escritora

Após umas horas passadas no ginásio, que cada vez me dao menos prazer (será sinal de senilidade e sedentadoria?), decidi escolher um outro que nao o rumo directo para casa, afinal esta encontrava-se vazia. Hoje nao estava naqueles dias de abrir portas às minhas loucuras profundas, o que sucede naquelas horas em que estou home alone e penso que ninguém me observa. Nao, optei por me regozijar com uma salada num bar. Apercebi-me dos olhares atentos dos que se encontravam já sentados. Quase ninguém entra sozinho num bar e muito menos pessoas se sentam numa mesa solitária, uma cadeira para si, outra para o casaco e a carteira, objecto assaz feminino de decoracao exterior. Senti uma obrigacao social de nao me deixar intimidar. Dei por mim a proceder exactamente na mesma quando a "escritora" marchou no bar, resoluta e de passos decididos, já com uma mesa em vista. Recuei no tempo, imaginei-me a mim mesma. A "escritora" puxou do seu caderno de notas e escreveu desenfreadamente as primeiras linhas. Um olhar fugaz apanhou o meu, para depois se debrucar no pequeno livro e continuar a esvaziar a alma, com um sorriso leve nos lábios. Assim como pensei em captar este momento de semi-intimidade no blog, assim irei eu aparecer num dos seus textos. Provavelmente.
Digo isto sem intencoes narcisisticas. Quando nos sentamos e julgamos sermos nós a parte activa de observacao, por vezes seremos simultaneamente o objecto de estudo.

Montag, 7. April 2008

Epifania

Numa justificacao muito própria, envolvida num egocentrismo atroz e de auto-salvacao, cheguei a uma conclusao, talvez precoce, mas deveras reconfortante. Esta humilde existencia terá servido pelo menos para te salvar de uma convivencia abissal condenada ao fracasso, vulgo casamento.

Definitivamente...


Ronya Galka, "It Must Be Monday Morning"

Sonntag, 6. April 2008

A contribuicao pessoal para o desenvolvimento da espécie

Imaginemos que um portador de Blackberry produza 300 mails por dia, cujo tempo de elaboracao ronde por unidade uns 2,5 minutos e cuja leitura de cada um leve 2 minutos, e os envie em média a 5 pessoas.


300 mails*1 pessoa*2,5 minutos = 750 minutos
300 mails*5 pessoas*2 minutos = 3.000 minutos

No total: 62,5 horas

Tudo isto para o lixo de UMA SÓ PESSOA?

Redes

Pergunto-me: Se já sem blog, Facebook, Hi5, Star Tracker e Xing (ainda haveria o Linkedin ou Tagged) eu conseguia ter tempo para os amigos, como faze-lo agora?

É imperativo buscar conselhos...

Samstag, 5. April 2008

Switch Off

Nao me consigo lembrar do último momento em que nao tenha sentido pressa ou nao tivesse a nítida e manifesta sensacao de estar a perder alguma coisa, tempo, sensacoes, acontecimentos, notícias.
Por vezes apetece desligar e deixar-me envolver pelos sons, cores, pelo silencio, a melhor das músicas. Como o branco, a melhor das cores por ser fusao de todas elas.
Porém, é a consciencia do tempo que me torna prisioneira, nem tanto do presente, mas mais do futuro ao virar da esquina, que se torna passado, minutos depois.
Penso numa ampulheta, que me apetece partir com sofreguidao.

Read carefully, I shall write this only oeence...

Finalmente aconteceu! 26 anos após o seu surgimento na BBC, a série de culto "Allo Allo" vai infiltrar-se no território germanico. Os direitos de transmissao acabam de ser comprados por um canal privado de televisao, estreia ainda por comunicar.
Reaccao a acompanhar com interesse, dada a relevancia histórica do tema, seis décadas volvidas.
O aspecto mais irritante do evento é o facto de muito provavelmente a série ser dobrada, o que retira 90% da piada e elimina o teor malandreco dos numerosos trocadilhos, a comecar pelo polícia "Good Moaning"Crabtree e a terminar na minúscula empregada "vou buscar um banco" Marrria.

Já me foi questionada a razao do exito da série em Portugal. Talvez pela absurdidade de algumas caricaturas ou mesmo pelo facto de o nosso quintal à beira-mar plantado ter sido poupado à crítica. Pudera, nessa altura estavamos ocupados com outros temas...

Mittwoch, 2. April 2008

C'est la vie!

A propósito de um dia eleito por alguém como o da Mulher, falou-se muito em discriminacao do elemento feminino na nossa sociedade. Eu prefiro pensar que cada um deve exercer os seus direitos legítimos à escolha do rumo a tomar e, caso esse exercício nao funcione, lutar por eles.
Contudo, essas mesmas faculdades de opcao sao condicionadas pela natureza. Nao se podem permutar ovários por testículos, por mais que se esperneie.

PS: Mas que eles ganham mais, aí isso é que ganham...

Terapia para a alma?

Por vezes, a sensibilidade está acorrentada ao estado de alma de tal forma que bastam lamechices como esta para nos dar um novo sentido à vida e nos colocar um sorriso rasgado nos lábios.
Sao estes os mails que normalmente apago após o primeiro som da banda sonora, sempre tao apropriada, que os acompanha.

Comeco a preocupar-me...

Valham-nos os preconceitos

Pic: http://www.viruscomix.com/

A mala de cartao - Parte III

Dia 18.03.08
Horas: 11:00
Pressentimento esquisito. Decido ligar novamente para a Groundforce de forma a certificar-me de que as minhas instrucoes haviam sido seguidas.
"A sua mala está no aeroporto pronta para ser levantada", exclama a empregada.

Início da saga e da perda de juízo.
Repeticao da mesma instrucao. Pela terceira vez.

Horas: 15:00
Situacao: Confirmacao do envio da mala a uma transportadora e da criacao de uma senha de levantamento da bagagem, a ser enviada via SMS para o telemóvel.

Horas: 23:00
Situacao: Sem roupa, sem malas, sem senha, sem notícias, mas com um número de telefone nao atribuído de uma agencia rodoviária inexistente. "Sabe que a companhia aérea também é conhecida por entregar as malas ao domicílio até às 23:00 horas".

Horas: 2:00
Situacao: Desesperante.

Dienstag, 1. April 2008

A mala de cartao - Parte II

Segundo dia, 17.03.08: Após várias tentativas em obter informacoes sobre o paradeiro dos meus pertences, recebo uma informacao via SMS em como a minha mala tinha chegado de Madrid. De imediato entro em contacto com a Groundforce, de forma a garantir que as instrucoes de envio da bagagem ao domicílio sejam cumpridas.

Hora: 23:05