A atmosfera competitiva que domina as relacoes humanas dá-se a conhecer em pequenos gestos e sinais quotidianos. Na Alemanha, pelo menos, tornou-se típico utilizar o automóvel como espelho reflector nao só das aspiracoes de cada um, mas mais ainda daquilo que cada um julga já ter alcancado. Nao só as pessoas passaram a medir-se aos palmos pelo número de cavalos que o carro apresenta no livrinho descritivo de capacidades, mas também pela quantidade de quilómetros que cada autocolante, religiosamente e com minúcia colocado na parte traseira do veículo, terá representado numa viagem passada. Relembro aquelas malas de cartao em tempos primórdios dos primeiros que se aventuraram nas expedicoes pelos jardins babilónicos ou pelos cumes do Everest, decoradas tal qual puzzle com sinais de cada passagem. Malas como essas, que terao acompanhado ilustres cidadaos como William Fog ou Edmund Hillary, tornaram-se raras nos tapetes dos aeroportos. Viajar modificou-se num fenómeno de massas, ninguém já se enternece com uma viagem a Paris.
O sentido de ostentacao nao cessou de existir por completo, de momento subsituem-se as malas pelos carros. Sao incontáveis os automóveis com autocolantes amarelos e pretos, de preferencia com a figura de um koala ou canguru ou uma frase "Land down under" (1.000 pontos para quem adivinhar o país...), ou brancos e azuis (a bandeira escocesa quase parece surpreender a tendencia omnipresente de normalmente se preferir Londres a qualquer outro local na ilha, daí o carácter exótico) ou ainda de fundo amarelo e letras azuis com a frase "Corse ferries 2007". Uau, estive num ferry boat com ligacao à Corsica.
Ao invés de design à la Mondrian, temos autocolantes com motivos fabulosos. Ou porque nao arrancar as páginas dos nossos passaportes caducados e usá-las como amostra de carro? Evita-se a pintura e pode sempre subsituir-se com novas, que custam menos que um laqueamento na oficina.
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