Montag, 24. Dezember 2007

O fenómeno SMS

Se se inserir a combinação "SMS Natal" no Google portugues, aparecem exactamente 5.440 resultados. No ano passado registou-se em Portugal o maior intercâmbio de mensagens electrónicas via telemóvel entre os cidadaos europeus. A que se deve este fenómeno quase esquizofrénico de demonstrações natalícias? Estou em período de investigações dado ainda nao ter descoberto a razão fulcral na origem deste frenezim. Parece-me mais um ritual acrescido ao caos associado à compra de presentes, couves, bacalhau, bolo rei e bolas de decoração do pinheiro made in China - diga-se uma forma mundialmente vantajosa de reciclagem de sacos de plástico. A ida apressada à caixa multibanco para carregar o saldo e levantar o dinheiro para colocar religiosamente no envelope, com receio de já nao se encontrar notas uma hora antes do jantar da consoada, tornou-se mais um hábito natalício.
Sinas e sinais da modernidade na comunicação. Quem nao possuir um telemóvel no seu espólio comunicativo fica cortado do prazer de vislumbrar árvores de natal virtuais decoradas de * e @, muito originais. Uma tentativa desesperada de fazer parte do todo, que não é tudo nem todos.
Recuso-me a alimentar as contas das TMN e das Optimus deste mundo e dedico-me à exclusividade de enviar umas quantas mensagens pessoais de final de ano àqueles que me dizem algo e com quem já troquei mais do que uns simples Olás e Bons Natais.
Nao via blog, mas telemóvel.

Freitag, 14. Dezember 2007

O futuro da solidao


Quase um resultado objectofilo da sociedade contemporanea, aquele que teme a solidao pode agora consolar-se com a ideia futurista de um androide.
À venda numa loja cibernética perto de si...

Freitag, 7. Dezember 2007

A lenda da salsicha

Era uma vez um menino de seu nome Maik. Maik nasceu em Magdeburg, Alemanha de Leste. O seu nome tem origem anglo-saxónica, apesar de ser escrito de forma diferente. Em tempos esquerdistas, nao era permitido ser-se progressista, e, sendo assim, a imaginacao era grande. Numa tentativa de esconder tendencias pro-capitalistas, preferia-se na altura adulterar a essencia onomástica dos nomes de todos, quase como se o proferir do primeiro nome do rebento fosse um grito de liberdade. Maik cresceu em Magdeburg, na altura ainda pacata, onde a existencia de cidadaos de países nao-europeus ainda era escassa, apesar de já se evidenciar alguma concentracao de descendentes otomanos. Eram os anos 80. Maik frequentou a escola primária e a Escola Superior Politécnica, a escola geral do sistema. Menos discriminatoria que a Realschule da RFA, supostamente a escola secundária dos pragmáticos, mas na realidade aquela que se destina àqueles que, por falta de esforco ou outra componente, nao ambicionam atingir um curso superior. Maik sentia-se desmotivado e pouco dado a leituras, acomodou-se. Nao aprendeu Ingles, mas sim Russo, a tentativa da DDR de aproximar o povo às origens ideológicas.
Com a queda do Muro em 1989, Maik passou para o outro lado, finalmente o acesso à Coca Cola e ao automóvel VW vermelho estava garantido. Até aí Maik bebia Capri e viajava até à fronteira com a Polónia de férias com os seus pais no seu Trabant azul-bebé amachucado. Levava consigo bandas desenhadas da própria DDR ou da Checoslóvaquia na mala, para se entreter entre os momentos mortos na praia da costa do Mar Báltico entre comunidades FKK (Freie Körper Kultur ou, em portugues, grupos de nudistas). Sonhava entre linhas com a vida no oeste, onde se podia circular sem problemas ou medos de alguém estar a vigiar os proprios passos. Berlim seria a cidade onde construiria vida com a sua Peggy, Mandy ou Cindy.


Muitos anos volvidos encontramos Maik numa praca principal de Berlim, Alexanderplatz. A vender salsichas por um Euro a estranhos que atafulham o recém-inaugurado Media Markt, com sede de televisores de 80.000 Euros ou DVD a precos da chuva. A verdadeira libertacao do capitalismo, ali, mesmo em baixo do seu guarda-chuva.
O pior nao é o calor do vapor da salsicha, mas o cheiro ao final do dia, empregnado em cada milímetro dos seus poros. Este bedum que nao sai das narinas e que contaminou já as papilas gustativas.
Um sonho que se tornou realidade, apesar da realidade nao corresponder àquela sonhada.

Quantas vezes se repetirá a história de Maik?

Donnerstag, 6. Dezember 2007

A minha desktop

Foto tirada do cume imperial, com telemóvel.

Insomnia

Estado de espírito: Depressivo-agressivo. O meu . Nao sei a que atribuir, se à falta de princípios dos que me rodeiam e que, mesmo assim ou provavelmente por isso mesmo, sao tao bem-sucedidos, ou se à perda de alguém querido que ainda tenho de digerir, a qual conferiu um sentimento de efemeridade aos meus dias, ou se à constante falta de sono. Os princípios dos outros, movidos por auto-interesse, nao posso modificar, muito menos a minha perda. Se durmo, nao aproveito o dia, a vida torna-se ainda mais curta e menos proveitosa. Que fazer?
É quase uma da manha... E eu sem sono... Vou tentar escolher um DVD porreiro, a ver se consigo adormecer com pensamentos positivos... Dr. House nao me parece uma boa escolha... Ou talvez sim, só pelas ironias...

Montag, 3. Dezember 2007

Auto-reflexao

Se todas as pessoas, cuja contratacao tenha caído na minha responsabilidade, se mostrarem incompetentes e forem enviadas pouco depois para a fila do instituto de emprego, nao serei eu obrigada a conduzir uma introspeccao? Provavelmente chegarei à brilhante conclusao de que nao serao elas aquelas que terao problemas de ineficiencia ou inadequadas qualificacoes, mas eu mesma, por ir sempre bater às portas erradas.

E, apesar de tudo, parece que existem tantas a procurar os bodes expiatórios nos outros...

Freitag, 30. November 2007

Apelo à maternidade

Filme: Idiocracy .
Assustador. O cenário de um mundo daqui a 500 anos. Nao vi o filme até ao final, mas bastaram-me os primeiros dez minutos.
Pessoal, é favor procriar!

A Tradicao dos Mercados de Natal

Hoje lembrei-me vivamente do momento no qual estive a mandar postais electrónicos de Natal. Parei dois segundos para regressar ao minuto actual e deparar-me com uma certeza. O tal momento foi no ano passado. Recordo-me que estava a trabalhar. Lembro-me até da iluminacao na divisao do meu escritório, tinha apenas algumas lampadas do tecto acesas, em sabor de farewell. Nesses dias as pessoas tornam-se tao euforicamente solidárias que os cumprimentos de Bom Natal soam a despedidas, como se o passar de um dia que alguém decidiu ser feriado e portanto descanso global representasse uma viagem no tempo em grandes dimensoes, obrigando-as a nao se verem por imensidoes de dias. Afinal, é só um. Breve, mas livre de outras obrigracoes que nao o passar calor humano a quem nos diz algo.
Dou-me conta que estamos lá novamente. A época das reflexoes, do frio, da chuva, da neve, das iluminacoes, dos sinos, do vermelho e do branco, do esquecimento de rivalidades, da vontade de partilhar. Na Alemanha comecam a pulular os Mercados de Natal. Weihnachtsmärkte, um pouco por toda a parte. Aglomeracao de tendas, divididas em seccoes: Seccao das velas com cheiro e cor, seccao dos brinquedos de madeira ou latao, seccao de CDs da Greenpeace, seccao de postais da Unicef, seccao de bolas para árvore de Natal pintadas à mao, seccao de gravuras para pendurar nas janelas, seccao de porta-chaves, seccao de carteiras rasta, seccao de paus de incenso, seccao de sabao feito à mao em Heidelberg, seccao de objectos de madeira para todos os usos (ou nenhum?), seccao de bonecos de peluche, etc etc etc...
Um verdadeiro mercado alemao de rua nao o seria sem a gigantesca seccao de comidas e bebidas. Em cada centímetro cúbico de ar sente-se o aroma a salsicha (Thüringer, Currywurst) misturado com cogumelos, molho de caril e as imprescindíveis batatas fritas com muito ketchup e maionese. A verdadeira salsicha pode ser servida de duas formas: Para os mais comedidos num papo-seco tres vezes menos volumoso do que a salsicha em si; ou entao em pequenos recipientes de cartao, salsicha cortada em vários pedacos suficientemente pequenos para caber na boca de uma crianca, mergulhada no tal molho de caril (nao fiquem a pensar no frango de caril lá de casa, este molho parece mais tomate de bolognese), acompanhada com a batata frita em palitos, tudo servido com guardanapos q.b. e o típico garfinho de madeira qual palito, para picar a batata.

A flexibilidade gástrica é imensa, aqui come-se a qualquer hora, antes, depois e durante as refeicoes. Se se estiver numa de apetite doce, há muito por onde se possa escolher. Amendoas tostadas envolvidas em acucar, nada de muito calórico, ou entao uma maca tal qual Branca de Neve, envolta num molho vermelhao natural sem corantes absolutamente nenhuns. O algodao doce nao é muito comum, e sim o crepe (vendido em stands tricolores; é como o restaurante italiano, normalmente pertencente a cidadaos turcos ou paquistaneses; haja saúde e ilusao), doce, salgado, simples ou com decoracao. A acompanhar tudo isto o famoso Glühwein, um tipo de vinho mais similar a sangria, mas quente, servido em tacas típicas alusórias ao Natal. Se alguém quiser levar uma taca usada para casa, pode pagar a tara e ficar com ela como recordacao, sim porque para o ano haverá novas tacas com 2008 gravado. Dizia eu que o Glühwein se tem que beber quente, quase mesmo a escaldar. Como complemento pode pedir-se o vinho com Schuß, um acréscimo, misturado com rum ou outro tipo de bebida, para atribuir ao vinho o gosto ultimativo. Assim, nao saberá a sangria barata e aguada, mas a álcool, barato mas forte. Os aderentes ao desporto do Weihnachtsmarkt juntam-se normalmente ao pé das tendas de Glühwein, onde permanecem horas de pé a conversar amenamente e a esvaziar tacas. A partir do momento em que se busca o apoio do balcao sabe-se que é hora de regressar ao sossego do lar.
Tropegamente, caminha-se ao longo das ruas do mercado, semi-vazias (o mercado fecha normalmente às nove da noite, para respeitar o direito dos cidadaos ao silencio do final de dia). Para culminar e tapar um vazio no estomago, para-se na barraca da Tia Ema para pelo menos satisfazer a gula visual e comprar um coracao ao namorado, que ficará para sempre pendurado numa qualquer janela lá de casa até criar vida em si mesmo.

Montag, 26. November 2007

À base de confianca

Na sexta-feira passada tive mais um encontro do nosso English Book Club. Trata-se aqui de uma aglomeracao de nativos de língua inglesa e outros curiosos que estejam interessados em discutir livros democraticamente escolhidos ao sabor de um bom vinho e de uma amena conversa. Eu, sempre atrasada e sem grande energia para ler devido a uma perda recente de uma pessoa muito querida (ainda nao consegui materializar o sentimento, estou à espera do Big Bang...), nao consegui terminar o livro sugerido. Entretanto, passei além da página 15 e nao consigo controlar o desejo de o ler até ao fim, apesar de ter ouvido os relatos dos outros na nossa reuniao passada e me parecer uma história que, porque real, exige um estomago reforcado. Ora, por ontem ter estado num casamento até às quatro da madrugada, nao me pareceu por bem hoje exagerar nos tratos.
Ia eu no Book Club de sexta. Encontramo-nos numa Casa Imperfeita (Unperfekthaus) em Essen. Apesar de parecer simplesmente um bar, esconde um projecto de artistas e designers vários, free lancers e apoiantes que organisam cursos e exposicoes diversas. Assim, poder-se-á combinar um café a meio da tarde com uma exposicao de fotografia que se estende até ao corredor que dá para a casa-de-banho, local onde nos espera um ecra de TV embutido no espelho e papel de enxugar maos que recebe impulsos de libertacao após se ter fechado a torneira.
O conceito que agora está en vogue é o de confianca no consumidor. Assim, a Casa Imperfeita cria o privilégio de ser o próprio consumidor a anotar aquilo que retira dos vários armários e contentores frigoríficos de comidas e bebidas que se encontram espalhados pelo espaco. Cada um recebe um livro de balancos, similares àqueles cartoes de discoteca, mas com sistema de self-service.
Talvez uma ideia deste género nao pudesse funcionar em qualquer país aliado a convencoes de Tupperware (se numa festa sobram restos, porque deitar fora? É gratuito!), mas ter-se-á de admitir que, se a honestidade de uma pessoa é colocada à prova de uma forma tao descarada, nao há tentacao a que se resista nestas circumstancias. O bom funcionamento de uma consciencia leve, que causa menos rugas e cabelos brancos.
Achei a ideia muito inovadora.

Como complemento, na Alemanha parece haver já espacos onde nao existem precos pre-estabelecidos, mas o pagamento efectua-se mediante o que os convidados e hóspedes acharem por bem dar. Qual último album dos Radiohead, In Rainbows, que foi lancado na net sem label, pelo qual cada um paga o que julgue adequado.
A democracia dos precos está a romper...

Mittwoch, 14. November 2007

Querida Sinapse,

o livro que me acompanha de momento intitula-se "Emergency Sex (and other desperate measures) - True Stories from a War Zone", de tres autores (Cain, Postlewait & Thomson). Dado que só cheguei à página 15, ainda nao categorizei a minha opiniao sobre o mesmo. Interessante será saber como uma assistente social nova-iorquina semi- consciente da vida, um estudante de Direito de Harvard sem vontade de se ocupar de casos, mas de direitos e deveres comuns, e um médico de Auckland da Cruz Vermelha se encontram acidentalmente no Cambodja como funcionários das Nacoes Unidas.

Anyway, na página 161 encontrei como quinta frase o seguinte:

"We are going to send helicopters out tonight calling the names of the missing men, telling them to hold on".

Com isto, nao estou certa de querer passar além da 15...

Por falar em ONU. No meu guia de NYC, por exemplo, que revejo vezes sem conta, na mesma página encontra-se referencia precisamente ao edifício da mesma organizacao... Coincidencias...

Mas nenhuma destas frases teve aquele impacto convincente sobre mim. Percorri a prateleira com o olhar e deparei-me com "Brave New World" de Huxley, um livro que me marcou pela sua visao futurista da realidade imaginada. Lembrei-me que actualmente a humanidade parece tao (pre)ocupada com a sobrevivencia do hoje e talvez do amanha, que quase nao resta imaginacao para o futuro daqui a 50 anos. Qual foi o último filme que viram do tipo Fahrenheit 451 de Truffaut, 1984 de Orwell ou mesmo a verdadeira saga de Star Wars sem lamechas? I, Robot ou mesmo A.I. sao dedicados à satisfacao mecanica de desejos humanos, mas sem aquela plenitude que se conhece dos anos 60 / 70, talvez aliada à intensificacao da creatividade aliada à Lucília do SCeu com Diamantes. Huxley escreveu na sua página 161:

"What fun it would be, he thought, if one didn't have to think about happiness."

Fico-me com um livro que me auxilia quotidianamente: O Dicionário Portugues - Alemao, Edicao de Bolso, a quinta palavra na página 161 é

"RIR (-se) = LACHEN"

Convem nao esquecer...

Convido o pessoal blogosférico a fazer o mesmo exercício. Só tenho alguns nomes, será que alguém me levará a mal se eu passar a pergunta ao pessoal, mesmo que nao me conhecam? Ok, aqui vai a tentativa:

Piazolla

Gabardina (aos membros que ainda nao o fizeram)

A Divina Desordem

London Calling

Fotoesfera

Dienstag, 13. November 2007

Comodismos da modernidade


Maravilha das maravilhas: Já nao bastavam os automóveis, as escadas rolantes, os elevadores, os skates e todos os aparelhos afins que nos permitem mexer os membros o menos possível, agora temos também... O AJUDANTE DE LEVANTE!

Em breve, num supermercado perto de si*!

*Para mais detalhes consulte o agente de vendas numa qualquer seccao de desporto e lazer.

Sonntag, 11. November 2007

Trivialidades

Existem países nos quais se tornou habitual nao se considerar uma mesa já ocupada como território exclusivo dos que chegaram primeiro e tomaram lugar. Se o canto é acolhedor, principalmente num dia de sol esplendoroso, na esplanada mais ampla da cidade, nada pertence a ninguém, tudo é de todos. Estava eu sentada numa dessas mesas a deixar que as minhas hormonas felizes se libertem - aqui convém mesmo armazena-las pois nao haverá nada mais incerto que o próximo dia de sol -, chegam dois amigos, de atitude simpática, com os seus casacos Hilfiger e camisolas coloridas à la Ralph (Quem?) Lauren, e perguntam-me se se podem sentar. Nestas ocasioes espera-se uma resposta positiva. Talvez algum dia me de para surpreender os que, a contar já com o "sim, claro!", puxando as cadeiras em preparacao para aterrar, lhes diga "Ah, hoje nao, estou com dores de cabeca...".
Aos dois amigos respondi que nao me fazia diferenca, apesar de me deixar sempre perturbar por conversas alheias, mesmo estando absorvida por um livro. Eu lia Thousand Splendid Suns, uma história comovente de duas mulheres nascidas no Afeganistao, bem diferente do dia candido e plácido que regozijavamos numa cidade calma da Alemanha.
A conversa entre eles iniciou-se, após aquele suspiro de alívio libertados depois de sentados.
"- Ontem à noite foi até às tantas. Julgo uma e meia da noite...
- Uau. Com quem?
- Com uns amigos meus que regularmente fazem viagens à China. Costumam ir a feiras de produtos. O outro amigo meu, sabes, aquele que vive agora em Colónia, onde o BVB (clube de futebol de Dortmund) vai jogar este fim-de-semana. Ou já jogou?
(silencio)
- O tempo está mesmo espectacular!
- Sim, o meu voo da semana passada nao correu lá muito bem.
- Entao a que propósito?
- O tempo nao esteve grande coisa.
- Ah...
- Na próxima semana viajo a Munique com a empresa. Alugo um carro, provavelmente um Smart.
- E o trabalho, como vai?
- Vai correndo.
(silencio)
- Ah, é verdade, o empregado ainda nao nos veio servir. Muito atenciosos aqui...
- E entao, o que comeram ontem?
- Foi fantástico. Algo muito exótico. Tapas. Esteve-se muito bem. EUR 275,0 por 8 pessoas.
- Com bebidas?
- Sim. Bem, se formos a comprar fica mais caro. Ah, e comida chilena também houve.
- Entao e a viagem do B. à Grécia?
- Oh, muito relaxed.
(o empregado vem, pede-se Latte Macchiato e cerveja).
(silencio)
- Com este tempo até podia nevar. Seria fabuloso na Zugspitze (montanha mais elevada da Alemanha).
- A ver vamos.
(silencio)
- O meu chefe regressa ao escritório depois de duas semanas de férias. Esteve em Málaga... Nao, espera, em Malta, assim é que foi. Para aprender Ingles. Com a famíla toda.
- Nada mau. E a empresa paga tudo, também as despesas dos filhos?
- Ah, pois claro.
(silencio)
- A M. também tem dois filhos. Coisas insuportáveis. E a L. também engravidou.
- Aquela que está com um tipo muito mais novo?
- Sim, essa mesmo. O que é que o gajo viu nela? Nao entendo... Ainda por cima toda deformada da gravidez anterior.
- Pfff...
- Até já nao estaria na idade de ter filhos, acima dos 40 acabou.
(silencio. O mais falador acende um cigarro.)
- Epá, ainda nao deixaste esse vício?
- Nao, pá, mas sao só alguns de vez em quando... É como o hábito de ligar o aquecimento em casa.
- Que tipo de aquecimento tens?
- A gás. Está tudo muito caro. No outro dia apareceu lá a empresa para ler o consumo de electricidade.

O meu telefone tocou, tive que ir. SALVA PELO GONGO!

O passado nao cai em esquecimento...



http://www.spiegel.de/international/germany/0,1518,grossbild-1016145-516430,00.html

Imogen Heap -The moment I said it

The moment I said it,
The moment I opened my mouth
Let in your army,
Bulldozed the life out of me


I know what you're thinking,
But darling you're not thinking straight
Sadly things just happen we can't explain


It's not even light out,
But you've somewhere to be
No hesitation
No I’ve never seen you like this,
And I don't like it I don't like it
I don't like it at all


Just put back the car keys,
Or somebody's gonna get hurt
Who are you calling at this hour?
Sit down, come round, I need you now

We'll work it all out together,
But we're getting nowhere tonight
Now sleep, I promise it'll all seem better,
Somehow in time

It's not even light out,
Suddenly (suddenly) oh, you've somewhere to be
With no hesitation
Oh, I've never seen you like this

You're scaring me
You're scaring me
You're scaring me to death

Don't…ohh (smash)
Please don't…ohh (Not a-[please] nother one)
Don't…ohh (smash)Please don't…ohh (Not a-[please] nother one)
I'm losing you, I'm losing you
Trust me on this one
I've got a bad feeling,
Trust me on this one
You're gonna throw it all away
With no hesitation(Smash)


Bye Bye Bye Bye Bye Bye
Bye Bye Bye Bye Bye
Bye Bye Bye
Bye Bye




Samstag, 10. November 2007

Perdidos por aí...



O dia da escolha chegou, após algumas contingencias, emergencias e vicissitudes. O grande dia da certeza incontornável. Há sete anos nao dormia. Nao se tratava de um mero fazer as malas, mas de uma escolha.

Eu, a emigrante. A que regressa por semanas para gozar o calor do Verao ou o do Natal, um atmosférico, o outro familiar. A que esquece palavras e troca idiomas. Muitos motivos se encontram a fundamentar o atenuar das raízes, um corte nao seria eficaz, ainda que por vezes desejável. Para amolecer a dor da saudade. Chamam emigracao ao fenómeno espontaneo de permutar o seu local de residencia por outro numa outra nacao. Há quem o denomine "Grenzgänger", aquele que perfura fronteiras. Outros chamam-no "Gastarbeit", os convidados a ficar para trabalhar. Existem aqueles que se abandonam à sorte do destino por razoes diversas, como condicoes políticas desfavoráveis ou perseguicoes intelectuais, limitacoes religiosas ou económicas. Ou os que buscam o prazer do clima ameno da t-shirt. A maior parte procura simplesmente... sobreviver. A seguranca que para alguns se trata de um bem adquirido é alcancada por outros com sabor a sangue, suor e lágrimas.

No meu caso? Nao conseguia esquecer o sentimento infantil de clausura. Como se a estabilidade de infancia me obrigasse a buscar a revolta, a dor da sobrevivencia, o conflito de privilégios, a imprevisibilidade do amanha num mundo inexplorado. Quase a procura masoquista de emocoes por falta de delírios e incertezas na minha existencia quotidiana. Pre-disposta a reviver os minutos na Terra de Ninguém das salas de espera dos aeroportos a cada partida, a cada chegada. A elasticidade dos lacos que percorrem as distancias e se alongam consoante o fosso que se estabelece ao dizer "Adeus, até breve". Quando se o diz.

A maior incongruencia de todas continua a ser a perseguicao de um sentimento de lar. Home. Heimat. Mudei já diversas vezes de cidade, de casa, de poiso. Como se procurasse algo lá fora que falta em mim. E a cada passo em frente faco e desfaco malas, escolho, conduzo retrospectivas, desfaco-me do passado indesejável, classificando-o, categorizando-o, e inicio o futuro, olho dentro de mim e do que pretendo ser e ainda nao sou, onde desejo estar e nao estou.


Esta questao fica em aberto: Quem saberá mesmo para onde vai?


Momentos de inspiracao culinária


Sábado. E vai ser isto o meu jantar. A verdadeira cena de decadencia com pitadas de preguica. Pelo menos o vinho é portugues...

Buon' appetito!

Freitag, 9. November 2007

Um contributo...

Há uns meses deixei de comprar bananas. Um protesto à globalizacao e ao consumo descontrolado. Um apoio indirecto à instituicao Banana da Madeira e ao fair trade lusitano, oposto ao laissez faire. Ainda que o comércio de bananas nao contribua tanto para o aquecimento global como o transporte de tomates entre a Holanda e a Alemanha, feito através de camioes de escapes rotos, decidi restringir o meu paladar à geografia.
Alemanha, o grande produtor de... morangos? É verdade, momentos inesquecíveis esses de poder comprar os frutos suculentos made in Germany no mercado por 0,99 euros a caixa. Nao sao tao monstruosos como os geneticamente manipulados vindos de terras hermanas, mas sabem bem e afagam o estomago. Happy end. Ah, e as bananas do Alberto sao supostamente demasiado pequenas para o mercado europeu (os olhos realmente comem mais do que as barrigas felpudas e reluzentes de Bruxelas), size does matter. Curiosamente ninguém levanta objeccoes aos tao exóticos objectos comestíveis provenientes do Ecuador, de seu nome Anti-Chiquita, que servirao de palito para suprimir o tal buraquinho no estomago após o jantar. Que coisa mais reduzida, quase como se tivesse ido à máquina de lavar num programa de alta temperatura. Afinal, as directivas europeias servem bem aqueles que preferem o longe do perto. Sofrem aqueles que se acomodam.

A queda faz 18 anos...

Respira-se história no Check Point Charlie. Resquícios de uma divisao ideológica de poder e repressao. 18 anos volvidos, nao mais do que um conjunto de tijolos que marcam um percurso pelas ruas de Berlim. Tudo guardado na gaveta das memórias. Pisei tracos de agonia e queda, tentativas de fuga logo eliminadas pelos anais, logo oficialmente nao existentes. O Estado tomava as decisoes, apoiava-se no silencio das massas e nos que, por sobrevivencia ou malvadez, se deixavam manipular pelo sistema de denúncias. O mais irónico de tudo é fazer-se de conta que os anos intermédios nao terao sido tao marcantes para definir uma mentalidade de ordem, pontualidade e individualismo. Milestones como 39, 45, 68, 89 sao relembradas. Mas alguém já pensou no que terá sucedido logo após a declaracao do final da guerra?

Mittwoch, 7. November 2007

Na Austrália nao existe uma seccao de Black Music..

Nitin Sawhney em entrevista

http://uk.youtube.com/watch?v=YKXf4sltveI

Prémios literários

"Ilsebill salzte nach", da obra Butt de Günter Grass, foi reconhecida como primeira frase de um livro a mais sonante de todos os tempos .
O verbo nachsalzen significa nach = após, salzen = salgar. Assim, trata-se aqui de uma situacao descritiva no passado sobre o acto de se salgar após (supoe-se) o procedimento de já se ter cozinhado algo. Sujeito: Ilsebill.

Terceiro lugar da competicao: Início de um romance de ldikó von Kürthys intitulado Blaue Wunder:
"Entweder mache ich mir Sorgen oder was zu essen."
O que significa qualquer coisa como "Ou eu comeco a preocupar-me ou entao preparo qualquer coisa para comer".

Dienstag, 6. November 2007

O oposto de burn... out...

Apesar do dia da semana nao ser segunda-feira e, assim menos pleno de momentos psicóticos de reminiscencias aliadas aos tao ansiados e por alguma alma caridosa definidos alívios laborais de fim-de-semana, andei atarentada de todo. Ao fechar a porta de casa após horas de labuta que me pareceram infindáveis, apercebi-me que, se alguém me tivesse encontrado num qualquer desses elevadores da Krupp por aí montados e, a fim de entrar numa de conversa amigável, me tivesse questionado sobre o tempo lá fora, eu nao teria sabido sequer dizer se o sol hoje raiou sobre as nossas cabecas. Os meus membros estiveram activados durante o dia, mas foi como se nao me tivesse apercebido da realidade das coisas e dos acontecimentos.

Boreout é que isto nao é...

http://www.timesonline.co.uk/tol/life_and_style/career_and_jobs/article2456531.ece

Sonntag, 4. November 2007

Esclarecimento em alemao

As primeiras palavras de um texto definem o carácter do mesmo. As últimas servem de epílogo. Mas as primeiras só se podem escrever conhecendo as últimas.
Num estádio evolucionista, quem conhece o final?
Servir-me-á de epitáfio o que se segue aqui, neste espaco, sem cedilhas ou com poucos acentos. Dazwischenland, tres em uma, quao típico alemao, dir-me-ia assimilada.
Da = Algures
Zwischen = Entre
Land = País

Por aí me encontro...