Freitag, 7. Dezember 2007

A lenda da salsicha

Era uma vez um menino de seu nome Maik. Maik nasceu em Magdeburg, Alemanha de Leste. O seu nome tem origem anglo-saxónica, apesar de ser escrito de forma diferente. Em tempos esquerdistas, nao era permitido ser-se progressista, e, sendo assim, a imaginacao era grande. Numa tentativa de esconder tendencias pro-capitalistas, preferia-se na altura adulterar a essencia onomástica dos nomes de todos, quase como se o proferir do primeiro nome do rebento fosse um grito de liberdade. Maik cresceu em Magdeburg, na altura ainda pacata, onde a existencia de cidadaos de países nao-europeus ainda era escassa, apesar de já se evidenciar alguma concentracao de descendentes otomanos. Eram os anos 80. Maik frequentou a escola primária e a Escola Superior Politécnica, a escola geral do sistema. Menos discriminatoria que a Realschule da RFA, supostamente a escola secundária dos pragmáticos, mas na realidade aquela que se destina àqueles que, por falta de esforco ou outra componente, nao ambicionam atingir um curso superior. Maik sentia-se desmotivado e pouco dado a leituras, acomodou-se. Nao aprendeu Ingles, mas sim Russo, a tentativa da DDR de aproximar o povo às origens ideológicas.
Com a queda do Muro em 1989, Maik passou para o outro lado, finalmente o acesso à Coca Cola e ao automóvel VW vermelho estava garantido. Até aí Maik bebia Capri e viajava até à fronteira com a Polónia de férias com os seus pais no seu Trabant azul-bebé amachucado. Levava consigo bandas desenhadas da própria DDR ou da Checoslóvaquia na mala, para se entreter entre os momentos mortos na praia da costa do Mar Báltico entre comunidades FKK (Freie Körper Kultur ou, em portugues, grupos de nudistas). Sonhava entre linhas com a vida no oeste, onde se podia circular sem problemas ou medos de alguém estar a vigiar os proprios passos. Berlim seria a cidade onde construiria vida com a sua Peggy, Mandy ou Cindy.


Muitos anos volvidos encontramos Maik numa praca principal de Berlim, Alexanderplatz. A vender salsichas por um Euro a estranhos que atafulham o recém-inaugurado Media Markt, com sede de televisores de 80.000 Euros ou DVD a precos da chuva. A verdadeira libertacao do capitalismo, ali, mesmo em baixo do seu guarda-chuva.
O pior nao é o calor do vapor da salsicha, mas o cheiro ao final do dia, empregnado em cada milímetro dos seus poros. Este bedum que nao sai das narinas e que contaminou já as papilas gustativas.
Um sonho que se tornou realidade, apesar da realidade nao corresponder àquela sonhada.

Quantas vezes se repetirá a história de Maik?

2 Kommentare:

Leonor hat gesagt…

Gostei muito.

Sinapse hat gesagt…

ó quantas vezes se repete a história!