A propósito de um aniversário redondo que se avizinha no qual irei participar, entrei num panico ansioso pois nao faco a mínima ideia o que poderei dar como presente. Mentalmente dei por mim a correr uma lista de possibilidades, as quais rapidamente descartei, uma por uma. Simplesmente porque a pessoa em questao tem absolutamente tudo o que precisa. De tudo o que se poderia comprar, claro está. Indaguei sobre a utilidade de presentear alguém hoje em dia. A essencia de dar um presente perdeu muito do seu significado, nao só na história, como na vida de cada um. Presentear é alterar a propriedade de um bem, transferi-la sem exigir uma recompensa. A maior parte dos presentes assume a forma de objectos: um carro, uma caneta da loja chinesa, um vaso de porcelana que imediatamente se troca. Adequado à falta de originalidade ou uma menor proximidade para com a pessoa que deverá ser presenteada será o vale de x Euros na Virgin, Habitat ou H&M). Tudo o resto - um beijo, muito amor e carinho, um pequeno-almoco servido na cama é fugaz, efémero e nao deixa resíduos, nem mesmo o pequeno-almoco. Muito menos se poderá trocá-los por algo que realmente nos interessa (ah, aquela coffee table fantástica do Ikea por EUR 19,90...).
As ocasioes de presenteio acumulam-se, nao só temos os famosos aniversários anuais (porque os tais romanos se decidiram pela mesura anual do tempo), como épocas de festejo tais como o Natal ou a Páscoa (grandioso conceito de marketing de uns quantos apóstolos, o qual se encontra actualmente em tempos de grande amargura - já alguém se lembrou de contratar uma empresa de consultadoria ou um encenador para levantar a moral da Igreja Católica?). À falta de eventos durante o resto do ano, alguém bastante perspicaz, muito provavelmente da área financeira da microeconomia, se lembrou de introduzir outras festividades. Porque ficar à espera de manisfestacoes espontaneas de afecto, quando se poderá criar o Dia dos Namorados? Ou o dia do Pai? Ou da Mae? Ou da Crianca? Ou da Avó? Ou da Árvore?
Voltemos ao universo pessoal. Em tempos infantis, receber um presente significava algo muito especial, nao era todos os dias que se recebia algo que se desejava ardentemente. A bicicleta com mudancas, a boneca da moda, o puzzle de 1000 pecas, o modelo ultimativo da Playstation, o castelo Playmobil. A celebracao era enorme, a alegria incomensurável. Para acordar do sonho só mesmo um beliscao. Cada objecto desempenhava o seu papel muito próprio, nao perdia automaticamente o seu valor após um dia. Enquanto nao se trabucava, nao se manducava. Hoje, cada um pode adquirir aquilo que no seu amago mais ambiciona. Se nao for por meios próprios, há um crédito, mesmo que tal signifique viver mal e comer pior durante 30 anos. Mas o objecto de desejo foi comprado, admirado, assimilado, sugado. O sentimento de posse mitigado.
Em tempos da idade média, o nível de vida nao seria comparável ao de hoje, mesmo as possibilidades de cada individuo seriam igualmente limitadas, como hoje em dia no denominado terceiro mundo. Aquilo que conhecemos na civilizacao ocidental é que pouco falta a cada um.
A história de uma parte da humanidade desenvolve-se em paralelo com a vivencia de cada um. À medida que o tempo passa, aumenta a soberania financeira.
Com tudo isto, como hei-de saber o que comprar como presente?
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