Peco pelo exagero. Quando desenvolvo uma mania, vivo-a até à exaustao. Dependendo da acessibilidade e da facilidade com que o posso fazer, ligo-me a determinadas actividades qual obsessao. Sucedeu-o com Digital Storytelling, com séries da TV como Sex and the City ou Absolutely Fabulous, com a fotografia (actualmente com a nova máquina do tipo reflex, cujo manual de instrucoes consegue ser quase tao grosso como a Enciclopédia Britanica), com o meu actual namorado. Nao penso em mais nada até ter atingido o ponto de saturacao. Ou ter conseguido alcancar um qualquer objectivo a que obstinadamente me tinha proposto.
Será talvez exagerada a comparacao com a minha relacao com o Facebook. Igualmente compulsivo o meu hábito de, a caminho do emprego, todas as manhas, ligar o Blackberry ao site desta plataforma tao moderna. Ao invés de ler notícias do mundo, escolho o universo de amigos, pseudo-amigos e conhecidos para me colocar ao corrente dos acontecimentos. Sorrio ao saber que estao bem e que hoje se sentem mais felizes que ontem, que assistiram a um filme interessante ou estiveram num concerto inesquecível. Ou que os Pixies actuam na Europa para breve. Ou que os Young Gods vao actuar em Zurique (informacao partilhada pelos deuses eles mesmos, o que nos concede, a nós, fas, uma manifesta sensacao de proximidade). Adoro percorrer os vários slides de fotos da última viagem à América Latina ou ao Andancas, à Ásia ou às praias reconditas ao largo do Mondego. Sigo com religiosidade aqueles que nos actualizam com vídeos polémicos sobre o Chuva de Estrelas no Irao ou sobre as verdadeiras razoes pelas quais a gripe suína recebe as atencoes dos média. Sinto-me viva porque me apercebo que, a cada foto ou vídeo partilhado, a cada comentário espontaneo, a realidade gira num sem-parar de momentos, emocoes, novidades, pensamentos. A distancia que geograficamente nos separa alimenta a curiosidade que nos reune, ainda que ciberneticamente. Nunca me senti tao informada. E tao longe dessas pessoas com as quais inicio o meu dia. Tornam-se agentes de uma dinamica que, de tao acessível, se torna irreal, porque composta por bites, 1 e 0, tao aqui e tao acolá. As pessoas que se escondem por detrás das fotos de perfil, essas, escolhidas minuciosamente para dar a conhecer o verdadeiro "eu".
Demorei algum tempo para me desligar dessa irrealidade. Consegui reduzir o tempo que passo com a actualizacao constante da minha vida através do que os outros vivem. Além de que me irrita solenemente o facto de o Facebook já nao ser construído com a contribuicao pessoal de cada um, mas mais através de quizzes que nada dizem sobre cores, filmes, serial killers, de salsichas que funcionam como oráculos, passatempos criados por alguém na plataforma como instrumentos de alienacao alheia. Desculpem se firo algumas susceptibilidades, mas já nao há paciencia. E, no entanto, encontram-me lá todos os dias por volta da hora de almoco.
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