Há uns meses que me proibí de comprar mangos. Deixei inspirar-me por um artigo sobre um intelectual nova-iorquino que se decidiu por produtos locais produzidos, segundo me lembro, num raio de 100 km. Além do mais, já numa trip levada muito a sério, vendeu todos os seus electrodomesticos para passar a entreter-se a tocar guitarra acustica nos seroes ao inves de ler jornais ou ver TV, abdicando inclusivamente do uso doméstico de papel higiénico.
Ok, aí vou.
Fase I: Optei por uma alimentacao de legumes / fruta baseada em produtos de origem germanica e passei a verificar todas as etiquetas de identificacao no supermercado, arriscando-me a ser alvo de olhares curiosos dos concidadaos que apenas se ficam pelo controlo dos precos do kilo.
Tarefa difícil. Alface, couve, cenouras. O tomate fica fora de questao, vem de Itália, Espanha ou Senegal. Fruta? Sim, as macas (atencao ao til) do Tirol (nao fica bem, bem na Alemanha, mas é perto). Com um pouco de sorte, morangos no Verao. Bananas? Esquece. Pessegos? Nem pensar. Peras? Pouco menos. Uvas? Nao era época.
Andei uns meses a exasperar, a enganar o estomago com o fruto proibido tiroles, que já jodelava de tanta pevide. E já nao havia paciencia para tanto morango, a lei da utilidade marginal decrescente comprovou-se mais uma vez na prática.
A dieta foi tanta que o meu dentista perguntou se eu andava a exagerar na salada, pois os meus dentes estavam a ganhar uma tonalidade esverdeada! Entrei em panico!
O caso tornou-se tao grave que deixei de comprar fruta e passei a lavar os dentes imediatamente após ingerir algo verde (outra vez o problema da melanina??).
Fase II: 100 km nao diria, avancemos em termos de território, tipo estratégia hitleriana. Que país me convem melhor? Alarguei o meu espaco gastronómico a Franca (as batatas, pois, alternativa seria Israel), Itália (vá lá, uma nectarina ou um tomate mini nao vao fazer a diferenca no balanco ecológico, talvez uma plantinha de basilico para enfeitar o esparguete) e Holanda (nem imaginam a quantidade de pimentos que este país pode produzir). Assim já posso descansar a consciencia com a maca do Tirol.
Um grande problema quando se quer cozinhar uma sopa de legumes ou fazer uma salada de frutas para as visitas (a acompanhar o pudim, feito de leite alemao).
O alho frances da Bélgica? Ou o nabo de Espanha? Ah, pois, decisoes. E a Banana do Ecuador, que, como sabemos, reina em primazia sobre a banana ana da Madeira? Ou a framboesa de Portugal? Os pessegos, os pessegos! Uma manga madura do Brasil ficaria tao bem a enfeitar. E o kiwi australiano ou a physialis da Nova Zelandia? Curiosamente o ananás nao me ficou na memória, mas tem cara de transporte aereo.
Fase III: Lá está, quase de volta ao ponto de partida. Mas só em situacoes extremas tipo festas ou ansiadas sopas de feijao manteiga (oriundo da Turquia).
P.S.: Assumo que nao prescindi do papel higiénico. A alternativa seria follhas de alface ou sabugos de milho, como no século XIX.
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