As lojas estao cada vez mais abrangentes. A bomba de gasolina já deixou de o ser há imenso tempo, tendo visto as suas margens de lucro aumentarem nao na venda de produtos relacionados com o atestar da máquina, mas mais com aqueles que se vendem em acréscimo, do tipo jornais (com preco fixo), o paozinho e o pacote de leite do pequeno-almoco de domingo (com margens de 100%), a pizza de horas tardias com cerveja a acompanhar (o meu sustento em noites solitárias na cidade hanseática de Hamburgo). Numa farmácia nao se vendem apenas medicamentos, mas já podemos adquirir bens cosméticos ou um bombonzinho que se diz bom contra a tosse ou o gargalo entupido. Ou apenas com sabor a mentol. Ou lencos de papel, que se recebem automaticamente com cada compra (nao sei quantos pacotes me preenchem entretanto os armários na casa-de-banho). Os supermercados tornaram-se hipermercados e com tal movimento capazes de oferecer solucoes a todo e qualquer tipo de necessidades. Um restaurante nao serve aos clientes, mas usa e abusa da posicao de fornecido vinícola para vender as suas garrafas de vinho típico (italiano ou espanhol ou chileno) pelo dobro do que as mesmas custariam numa loja normal.
E o que sucedeu a livrarias? Precisamente o mesmo. O produto a ser vendido diversificou-se de tal forma que um consumidor normal já nao sabe identificar o que originalmente vinha comprar, se era o último do Murakami, o jornal semanário ou o pauzinho de incenso, para nao esquecer a coleccao de DVD dos 100 melhores filmes de todos os tempos. Talvez afinal nao fosse para comprar seja o que for, e antes para se sentar comodamente numa das poltronas espalhadas pelo piso 2 pertencentes à cadeia norte-americana Starbucks (essa igualmente espraiada por todos os cantos do mundo) com uma caneca de tamanho médio (que mais parece um balde) de café saboroso, premiado com muita espuma e um pouco de chocolate em pó, saboreando um dos inúmeros livros sobre aspectos decorativos de apartamentos loft em NYC. Ou entao preparando a apresentacao para a reuniao da próxima semana, equipado com laptop e enciclopédia (quem necessita de WLAN ou Wikipedia quando pode retirar aquilo que precisa de uma das estantes da livraria?). Tudo soa bastante cosmopolita e distante, quase forcado ou forjado por uma aptidao a tornar-se convenientemente como os outros, os civilizados e progressistas.
Para quem nao saiba bem o que poderá adquirir para decorar mais um móvel lá de casa poderá sempre optar por um livro de culinária, esse em miniatura e para todos os gostos. Todos? Quase. Desengane-se o gourmet que estiver sequioso de uma receita carnívora, parece que está fora de moda ou terá assumido o estatuto de politicamente incorrecto. Há de tudo, de comida indiana a receitas com chocolate, gambas com gambas ou esparguete de todos os feitios. Low fat, middle fat, not too fat. Vegetarianos ou veganos nao se sairiam mal. Umas receitas de peixe, sim (menos aconselhável ainda por questoes de preservacao natural), ou 1001 formas de se preparar espargos. Mas CARNE? BIFES? COSTELETAS? Sim, talvez bem lá escondidas as panadas à Viena. E basta.
Vim para casa sem saber o que pensar, se sou eu que ainda vivo num mundo pluralista aparentemente imaginário ou se exigirei demais do nível de escolha num estado democrático.
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