Dienstag, 1. Januar 2008

O que fazer com 2007?

O ano solar de 2007 terminou. Mais do que simplesmente guardá-lo na gaveta das memórias, sem retrospeccao, desejo dissecá-lo. Estes 365 dias foram plenos de emocoes, regularmente irracionais, aliadas a pensamentos negativos de corpo e alma. Desenvolvi sensacoes muito intensas em relacao a pessoas que ocupam demasiado tempo no meu dia-a-dia, a quem presenteio mais atencao do que aquela devida. Descobri que, ao contrário daquilo que pensava, sou uma pessoa que por vezes se entrega deliberadamente a conflitos, principalmente se estes servem o propósito de me conceder uma superioridade auto-identificada, mas nem por isso consensual. Mas paralelamente aprendi a nao calar a voz do descontentamento, a insurgir-me contra injusticas, a desenvolver um papel menos passivo em relacao a tudo o que me rodeia, principalmente num mundo laboral egocentrico e populado por accoes individuais que em nada contribuem para um bem colectivo, e sim para alimentar contas e desejos pessoais. Fui entao mentalmente esbofeteada, por me ter tornado tao inconveniente, tendo perdido uma predominancia até aí conquistada por dedicacao e labuta árduas. Nao serviu de nada, tornou-se uma tarefa de Sísifo, agora pertenco à fraccao anárquica, por nao pactuar com o sistema. Regozijo-me. Tento aprofundar este descontentamento de forma a intensificar o interesse por causas comuns, mudar o estado das coisas, empurrar a pedra até ao cimo e ser forte o suficiente para a manter e desafiar as leis poderosas da gravidade deste conformismo inevitável que me tem caracterizado.

Este ano trouxe-me uma nova paixao, a cidade de Nova Iorque. Um sonho de há muito concretizou-se, a sensacao de incredulidade foi de tal forma intensa que nao me permitiu aceitar onde estive, como se me encontrasse a caminhar em algodao durante a viagem inteira. O meu medo maior foi de só ter dois orgaos visuais e auditivos, e um cérebro, nao me sendo possível captar cada segundo de movimentos. A cidade pulsa, vive, cada segundo intensamente.
Mas foi também um ano de regressos.
A minha relacao à distancia, quase platónica, com a Escócia, renovou-se com uma visita inesperada a Glasgow e Edimburgo. Velhos sabores, novos sentidos.
Após oito anos estive no Algarve, local de recordacoes de infancia, um regresso ao passado.
Por vezes, aconchega a ideia de haver muito que, apesar do passar das estacoes, nao muda. A Praia do Alemao está exactamente igual, com os seus rochedos imponentes que escondem o por-do-sol no final de tarde, quente e aconchegante, no qual os acompanhantes sao as gaivotas curiosas e as ondas minusculas que nos relembram o suceder dos minutos.

O passar do tempo, acentuado com uma perda grande de alguém muito querido (sentimentos que ainda nao desejo desenvolver, quanto mais palavras partilhadas, menos apropriado me parece o local, por isso páro por aqui), nunca me foi tao claro. Consciencializei-me da efemeridade, sentimento que por vezes me enlouquece por me impedir de aproveitar os momentos de "nao fazer nenhum". Constantemente alguém me chama a atencao para o facto de eu desenvolver a nocao do tempo com um sentido profundo de utilitarismo, o que aproxima da nocao germanica do útil. O verdadeiro alemao tem que aproveitar o seu tempo de forma prática e concreta. Eu tento rebeliar-me contra esta acusacao de assimilacao. Existe tanto que eu gostaria de concretizar que a existencia das estabelecidas rotinas paradigmáticas me parecem esquizofrénicas e limitativas. Life is not a dress rehearsal, dizem os escoceses.

Se a celebracao de um final de ano parece ser mais um fenómeno de massas, pelo menos há um sentido que eu considero saudável: O de recomeco. Olhar para trás, deixar que as memórias menos negativas sejam varridas pela nossa capacidade selectiva de pensar no bom. Como a onda na Praia da Rocha.

1 Kommentar:

Sinapse hat gesagt…

Que o novo ano te permita recomeçar, continuar, com mais força e mais retribuída!

:)

Feliz Ano Novo!